em que foi vivida, e no tempo atual esse desafio se torna ainda mais evidente com o avanço da inteligência artificial e da criação de ambientes virtuais. A transformação digital não é apenas um movimento tecnológico, mas também cultural, que impacta profundamente a forma como os indivíduos se relacionam com a fé, a comunidade e a espiritualidade. Nesse cenário, surge a necessidade de refletir sobre como a mensagem religiosa pode ser transmitida sem perder sua essência diante das mudanças radicais da comunicação humana.
A presença crescente do metaverso traz à tona uma questão central: como a espiritualidade pode dialogar com um espaço que rompe as barreiras físicas e cria novas realidades? Se por um lado há receio de que o excesso de tecnologia afaste as pessoas do contato humano, por outro, há a oportunidade de alcançar corações e mentes que antes permaneciam distantes. A missão pastoral se expande e se reinventa, mas exige sabedoria para não transformar a fé em mero produto digital, e sim em uma experiência autêntica que atravesse telas e algoritmos.
O surgimento da inteligência artificial amplia ainda mais esse debate, já que a automação da comunicação, a personalização de conteúdos e a geração de respostas rápidas podem facilitar o acesso à informação, mas também trazer dilemas éticos e espirituais. O ser humano precisa discernir até que ponto a tecnologia auxilia na aproximação com o divino ou se torna apenas mais uma forma de distração em meio ao excesso de estímulos. Essa reflexão não se resume ao ambiente acadêmico ou religioso, mas alcança diretamente a vida cotidiana das pessoas, que hoje equilibram tradição e inovação.
Ao mesmo tempo em que a cultura digital gera novos espaços de encontro, também coloca em xeque o papel da comunidade física. Igrejas e grupos de fé passam a se perguntar como manter o senso de pertencimento em uma era em que muitos preferem se conectar virtualmente. A evangelização, nesse contexto, exige criatividade para unir o humano e o tecnológico, sem perder a centralidade da mensagem espiritual. O equilíbrio entre a profundidade da tradição e a ousadia da inovação se torna essencial para que o diálogo com a sociedade seja efetivo.
Outro aspecto fundamental é a formação das novas gerações, que já nascem imersas em um universo digital. O contato com telas, redes sociais e experiências virtuais acontece de forma natural e precoce, o que desafia educadores e líderes religiosos a apresentar valores que não se percam nesse fluxo constante de informações. O caminho passa por mostrar que a fé não é incompatível com a tecnologia, mas sim uma fonte de sentido capaz de orientar a forma como cada pessoa utiliza os recursos disponíveis.
Nesse cenário, a espiritualidade assume também um papel crítico diante das promessas tecnológicas. O entusiasmo com o metaverso e com a inteligência artificial não pode obscurecer a responsabilidade ética e a consciência de que a verdadeira plenitude não se encontra apenas na inovação, mas na vivência humana em sua integralidade. O diálogo entre fé e ciência, longe de ser uma disputa, pode se tornar um espaço fecundo de aprendizado mútuo e de construção de caminhos mais humanizadores.
A obra lançada por Dom Edson Oriolo se insere justamente nesse contexto de reflexão, trazendo provocações sobre o modo como a evangelização pode se reinventar sem abandonar sua base espiritual. O olhar crítico e ao mesmo tempo aberto às novas possibilidades mostra que o futuro não deve ser encarado com medo, mas com discernimento. A tecnologia pode ser um instrumento poderoso de aproximação, desde que seja conduzida pela responsabilidade e pela consciência do seu impacto na vida espiritual das pessoas.
Assim, a mensagem central que emerge dessas reflexões é clara: a fé permanece atual em qualquer tempo, mas cabe às lideranças religiosas e à comunidade de fiéis aprender a falar a linguagem de cada geração. O metaverso e a inteligência artificial não são obstáculos intransponíveis, mas convites a repensar a forma de viver e transmitir valores. O desafio está em garantir que, no meio de tantas transformações, a espiritualidade continue sendo luz e guia para a vida humana.
Autor : Fred Kurtz